
Ruffy and the Riverside – Uma homenagem sincera (e divertida) à era de ouro dos games de plataforma | Análise
Analisado no PlayStation 5
No dia 26 de junho, a desenvolvedora Zockrates Laboratories UG, em parceria com a distribuidora Phiphen Games, lança Ruffy and the Riverside, um título que mergulha fundo na nostalgia dos jogos de plataforma 3D da era Nintendo 64. Inspirado diretamente em clássicos como Banjo-Kazooie e Super Mario 64, o game aposta em uma combinação de puzzles, exploração e personagens carismáticos para tentar cativar tanto veteranos quanto novos jogadores que gostariam de embarcar neste gênero tão esquecido nos dias de hoje.
Apesar de não trazer inovações drásticas ao gênero, Ruffy and the Riverside se destaca por sua direção artística charmosa e por resgatar uma proposta que há tempos não recebe a devida atenção no mercado. Com mapas amplos, coletáveis escondidos e desafios bem-humorados, o jogo tenta equilibrar homenagem e identidade própria. Mas será que essa jornada repleta de cores, ritmo e plataformas entrega uma experiência sólida o suficiente para justificar o investimento do jogador?
Antes de contar sobre os principais aspectos de Ruffy and the Riverside, primeiro precisamos falar de sua história, que é, definitivamente, o ponto mais fraco de todo o jogo. Nela acompanhamos Ruff, que se vê em meio a uma aventura para salvar o seu mundo do terrível Groll, um cubo alienígena maligno que pretende usar o poder especial de artefatos mágicos denominados de bolinhas de gude para acabar com Riverside e tomar todo o território para si, causando uma desordem nos elementos.
Como podemos perceber pela sua sinopse, Ruffy and the Riverside não se preocupa em criar uma história muito envolvente ou complexa, sendo apenas um plano de fundo para os outros aspectos do jogo brilharem.
Portanto, apesar de uma quantidade absurda de personagens e diálogos, o game não foca em suas histórias e tramas, com esses diálogos dos personagens servindo apenas para passar mais uma sidequest para o jogador. Porém, esse aspecto do jogo não é ruim, já que o game nunca teve a pretensão de entregar ao jogador uma história fantástica cheia de nuances, porém, ainda assim, alguns detalhes da história são curiosos e até mesmo engraçados, transformando a fraca história em algo divertido de se acompanhar, ou seja, um bom plano de fundo para os outros aspectos brilharem.
O aspecto mais importante de Ruffy and the Riverside, com certeza é sua jogabilidade, que, além de homenagear diversos jogos do gênero, traz uma mecânica nova e completamente original, Ruffy, o protagonista do jogo, possui uma habilidade única de trocar elementos do cenário, substituindo qualquer textura presente nos objetos do mapa. Desta forma todos os quebra-cabeças do jogo rodam em torno dessa mecânica que esbanja criatividade e o mais importante, originalidade.
Em Ruffy and the Riverside, não existe nada mais prazeroso do que resolver um puzzle utilizando uma ideia que você teve através desta mecânica, substituindo, por exemplo, água por trepadeiras para escalar uma cachoeira – que inclusive é o primeiro quebra-cabeça de todo o jogo.
Porém, apesar da mecânica ser genial, ela não é isenta de falhas, principalmente quando tentamos pensar um pouco fora da “caixinha” e fazer trocas que supostamente não eram a melhor opção para aquele problema em questão.
Esse problema acontece porque a mecânica central do jogo é extremamente difícil de ser feita pelos desenvolvedores, com cada elemento trocável possuindo um tipo de característica diferente, dificultando assim jogadas mais inusitadas que poderiam dar certo, mas infelizmente são bloqueadas pelo aspecto de falta de capacidade do game em fazer isso. Esse problema não é necessariamente uma falha do jogo, mas vai contra a própria mecânica principal que rodeia o game, podendo ser problemática para uma parte dos jogadores.
Além dessa mecânica, Ruffy and the Riverside possui uma jogabilidade esperada de um game que se inspira em clássicos de plataforma do Nintendo 64, com movimentos simples, mas eficientes: pulo duplo, ataque giratório, escalada e outras mecânicas do gênero estão todos presentes e funcionam de maneira fluida.
A câmera, embora ocasionalmente desajeitada – algo que também era comum nos títulos antigos que homenageia –, consegue acompanhar bem o ritmo da ação na maior parte do tempo. Os controles são responsivos, e os comandos são intuitivos o suficiente para que até jogadores menos experientes consigam se adaptar rapidamente, sendo um aspecto muito positivo para novos fãs do gênero.
O jogo não esconde suas influências e, de certa forma, faz disso uma virtude. A estrutura dos mapas lembra os mundos abertos e interconectados de Banjo-Kazooie, com desafios espalhados de maneira orgânica e recompensas bem distribuídas. É uma fórmula testada e aprovada, que Ruff and the Riverside replica com respeito e competência, e, somando com a mecânica principal de troca, é um dos aspectos mais divertidos do jogo.
Portanto, podemos dizer que ao combinar essa base nostálgica com a ousadia da mecânica de troca, o jogo constrói uma experiência que é, ao mesmo tempo, familiar e refrescante. Mesmo com limitações técnicas visíveis em certos momentos, a jogabilidade se mantém envolvente e recompensadora, sendo o ponto mais divertido de todo o game.
Para acompanhar sua ótima jogabilidade, Ruffy and the Riverside aposta em um visual que é, ao mesmo tempo, nostálgico e estilizado. Os gráficos se inspiram diretamente na era Nintendo 64, com cenários 3D compostos por poucos polígonos, texturas simples e cores vibrantes, remetendo imediatamente aos clássicos que o jogo homenageia. Essa escolha estética não é fruto do acaso, mas sim parte da proposta de resgatar o charme das antigas plataformas em uma roupagem moderna.
O diferencial visual do jogo, no entanto, está na presença de elementos em 2D que se misturam com o ambiente tridimensional, como se fossem feitos de papel ou recortes de cartolina. Essa estética, que remete à ideia de um teatro de fantoches ou a um livro pop-up, cria um contraste interessante e reforça a identidade visual única do título. É uma direção de arte que demonstra personalidade e carinho pelo material que inspira o jogo, sendo um verdadeiro presente para os fãs do gênero.
Ainda assim, é importante destacar que essa escolha pode não agradar a todos. Jogadores que buscam realismo gráfico ou esperam algo mais próximo do potencial visual dos motores gráficos da atual geração talvez não enxerguem o mesmo valor na proposta artística de Ruff and the Riverside, definitivamente olhou para o game errado. Apesar disso, para aqueles que apreciam uma boa homenagem aos tempos de ouro dos games de plataforma, o estilo visual adotado é coerente, charmoso e bem executado dentro de seus próprios limites.
Por fim, Ruffy and the Riverside é, acima de tudo, uma carta de amor aos jogos de plataforma 3D que marcaram época no Nintendo 64 e em outros consoles da época. Sua proposta não é reinventar a roda, mas sim relembrar porque ela girava tão bem naquela época.
A mecânica de troca, ainda que imperfeita em alguns momentos, representa um sopro de criatividade em meio a uma estrutura tradicional e oferece momentos de pura satisfação para quem gosta de resolver puzzles com liberdade e lógica própria. Mesmo com uma narrativa esquecível e certas limitações técnicas, a jogabilidade sólida, os visuais estilizados e a ambientação charmosa fazem do game uma experiência nostálgica e, ao mesmo tempo, refrescante.
É claro que Ruffy and the Riverside não será para todos. Quem busca experiências cinematográficas, enredos densos ou gráficos ultrarrealistas talvez não encontre aqui o que procura. Mas para os jogadores que cresceram com o controle trêmulo nas mãos ao lado de Mario e Banjo, ou para aqueles que querem descobrir a magia desse estilo pela primeira vez, este título oferece exatamente o que promete: uma aventura leve, divertida e cheia de personalidade. E às vezes, é disso que a gente mais precisa.