Dragon’s Dogma 2 – Parece mais um Dragon’s Dogma 1.5 do que uma sequência | Análise
Testamos o jogo no PlayStation 5 e no PC e em ambas as plataformas o desempenho está longe do aceitável.
Analisado no PC e PlayStation 5
Dragon’s Dogma 2 é um RPG de ação e mundo aberto, desenvolvido e distribuído pela Capcom. O título foi lançado em 21/03/2024 com versões para as plataformas PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.
Lançado inicialmente em 2012 para o PlayStation 3 e Xbox 360, Dragons Dogma conseguiu ser um sucesso comercial e também de críticas que levaram ao lançamento da DLC Dark Arisen no ano seguinte. Dark Arisen chegou com o objetivo de expandir a jogatina, corrigindo alguns problemas e também introduzindo melhorias de qualidade de vida, estas que foram consolidadas com o lançamento de uma nova versão/port intitulado de Dragons Dogma: Dark Arisen, uma versão completa que chegou para o Nintendo Switch, PC, PlayStation 4 e Xbox One. Após mais de uma década do lançamento original, finalmente temos uma sequência e Dragons Dogma 2 é um jogo que diverte, mas traz muitos dos problemas do primeiro jogo de 2012 e faltam muitas melhorias de qualidade de vida.
Para quem não se lembra ou não conhece, Dragon’s Dogma tem sua trama principal baseada em uma espécie de conto que diz que de tempos em tempos um dragão aparece no mundo e devora o coração do escolhido, o “Arisen”, este escolhido precisa se aventurar para confrontar o dragão e tentar impedir o fim do mundo. A história nunca foi o ponto alto da série e esta sequência continua com a mesma premissa, claro que também temos várias missões secundárias, mas nada aqui é bem desenvolvido e muitas dessas tem objetivos confusos, assim o ponto mais alto da jogatina continua sendo o combate.
Em Dragons Dogma nós jogamos no controle de nosso personagem principal em conjunto com NPCs chamados peões que nos auxiliam na aventura. Para começar é preciso criar seu personagem, na sequência criamos o nosso peão e o sistema de criação aqui é interessante, temos várias opções de customização e é praticamente possível criar os personagens da forma que quiser. O jogo traz 10 classes principais, mas inicialmente só podemos escolher 4, outras 2 serão liberadas logo no início da aventura e infelizmente as outras 4 só serão desbloqueadas lá para o final do jogo. Não existe save slot, mas isso é algo que não é um problema pois é possível trocar livremente entre as classes, sendo necessário somente jogar para conseguir pontos e desbloquear as habilidades.
Em comparação com o jogo anterior o sistema de classes foi bastante alterado e tivemos várias mudanças, sendo as principais a limitação de apenas um conjunto de equipamentos por classe com apenas uma exceção, onde no primeiro jogo algumas podiam utilizar dois conjuntos, também tivemos mudanças nas habilidades com esta sequência trazendo menos recursos e as classes em si também foram modificadas em um formato que no geral trouxe um maior equilíbrio em detrimento da quantidade de opções que existiam no primeiro jogo.
Personagem e peão criados é hora de partir para a caminhada e prepare-se, pois, aqui você irá andar muito. Infelizmente o jogo traz um sistema de viagens baseado nos do original de 2012 e muitos dos objetivos aqui vão te levar do outro lado do mapa só para conversar com alguém ou coletar algo. Só é possível chegar na grande maioria dos objetivos andando, pois o sistema de viagem aqui é extremamente limitado a carruagens que saem para destinos seletos e só na parte da manhã e o sistema de viagem rápida utiliza pedras-porto que são um item consumível raro e que tem um preço elevado. Infelizmente este é um retrocesso nas mecânicas de viagem, visto que a versão Dark Arisen trouxe em suas melhorias de qualidade de vida uma pedra-porto infinita dada as reclamações em cima desta mecânica e o sistema de carruagem introduz encontros aleatórios durante as viagens que podem acabar destruindo a carruagem e te deixando no meio do caminho, viajar simplesmente não é divertido.
Se é preciso andar muito, pelo menos durante o caminho você irá encontrar muitos combates. Como dito acima, o combate é o ponto alto da jogatina e esta sequência traz as mesmas mecânicas que fizeram do primeiro um sucesso, assim temos uma divisão entre inimigos pequenos e grandes, em conjunto com um sistema de escalada e derrubada de monstros e ciclo de dia e noite. O combate é divertido e dinâmico, podemos agarrar e sair voando/cavalgando nos monstros maiores e a dificuldade no geral é baixa mesmo durante a noite, onde temos os inimigos mais fortes com o jogador necessitando somente saber se posicionar e utilizar suas habilidades de acordo com a classe escolhida. O lado ruim aqui é que a variedade de inimigos é muito baixa e você acaba cansando de enfrentar os mesmos monstros depois de umas boas horas de jogo, fator este que é ainda mais acentuado para quem jogou o título anterior.
Para quem não conhece, em Dragon’s Dogma nós jogamos acompanhados de peões, os pawns em inglês. Os peões são NPCs que podem ser criados ou contratados e irão nos acompanhar na maior parte do jogo, nos auxiliando no combate e exploração. O sistema de peões está na mesma medida do antecessor, assim é possível criar um peão pessoal que pode ser customizado e irá subir de nível juntamente com nosso personagem principal. Os outros dois podem ser recrutados em um sistema de fenda, onde é possível contratar peões de outros jogadores ou feitos pela Capcom, estes não sobem de nível e é preciso fazer uma certa rotatividade, contratando novos após subir alguns níveis. Da mesma forma com que podemos contratar peões de outros, os outros jogadores também podem recrutar o seu peão e após dispensarem ele é possível receber recompensas pelo empréstimo, mas é preciso ficar atento pois esta sequência introduz uma praga que afeta os peões e pode ocasionar situações indesejadas para o jogador.
No geral a AI do jogo está melhor do que a anterior com algumas ressalvas. Durante o combate os peões se comportaram de maneira bastante satisfatória, nos dando suporte quando necessário e utilizando as habilidades de forma eficiente nos confrontos contra monstros. Fora de combate a situação muda e apesar da AI funcionar até bem quando algum peão te fornece o caminho para algum segredo ou te avisa de algum perigo, nós temos severos problemas de pathfinding e não é difícil ver peões escolhendo caminhos errados, caindo de penhascos e morrendo ou ficando presos no cenário. O pathfinding é frustrante principalmente quando temos batalhas perto de elevações, pontes e penhascos, os personagens simplesmente caem e morrem ou pegam o caminho errado insistindo em ficar com uma formação em aberto em locais onde só é possível passar em filas.
Entre as seções de caminhada e combate, temos momentos de exploração e este é um ponto não muito recompensador. Apesar do mapa ser grande e existirem vários locais para serem explorados, infelizmente as recompensas são desanimadoras, simplesmente não faz sentido explorar visto que as melhores armas e armaduras são compradas em lojas e as recompensas dos baús na maior parte do tempo são materiais básicos ou poucas moedas. Para piorar a situação, às vezes você passa muito tempo em uma caverna e acaba saindo dela durante o período noturno com poucos recursos o que torna o caminho de volta desnecessariamente frustrante dado o sistema de viagem.
A ambientação desta sequência está boa, mas a qualidade geral é bastante questionável. Os gráficos estão legais e as texturas aparentam estar bem feitas, contudo as animações de combate estão inconsistentes e quando comparado a versão Dark Arisen percebemos que a evolução gráfica não foi grande. O lado positivo são as interações com os peões que trazem novas falas e animações que variam de acordo com os eventos do momento, temos até uma pequena animação de “high five” entre mestre e peão. A trilha sonora aqui é boa, mas não é memorável e o conjunto traz músicas para embalar os combates e bons efeitos sonoros, mas não é nada que chame muito a atenção até porque você precisa ficar focado e a música de fundo acaba sendo deixada em segundo plano.
O título vem sendo alvo de algumas polêmicas, algumas justificáveis e outras não, vou comentar a principal que são as odiadas microtransações. Sim, temos microtransações neste jogo single player, mas a realidade é que elas não influenciam diretamente na jogatina e é possível terminar a aventura tranquilamente sem elas. Por outro lado, o desempenho é abismal, o título foi desenvolvido no motor RE Engine da Capcom, este que está por trás dos últimos sucessos da desenvolvedora, contudo este claramente não serve ou não foi otimizado para jogos de mundo aberto.
Testamos o jogo no PlayStation 5 e no PC e em ambas as plataformas o desempenho está longe do aceitável. No console o jogo roda com FPS destravado, mas não espere muitos quadros, aqui nós temos uma média pouco acima de 30 com algumas quedas, uma performance que simplesmente não faz sentido dada a qualidade gráfica e os sistemas de jogo. No PC a situação muda e a média de quadros pula de 30 para 90 ou mais dependendo da configuração de sua máquina, contudo aqui nós temos vários problemas como uma grande flutuação de quadros, inconsistências de frame time, além de travamentos e crashes aleatórios. O problema segundo os desenvolvedores parece ser a forma com que o sistema aloca recursos para computar a física e posição de cada personagem no cenário, assim fora das cidades temos quadros mais altos e dentro delas a performance cai assustadoramente. A performance nos consoles é pior dada a idade e a limitação das plataformas, mas de toda forma o jogo está longe de um produto otimizado e você encontrará problemas de desempenho não importa a plataforma escolhida.
No final, Dragon’s Dogma 2 é um título que não inova, o jogo parece ser mais uma DLC de seu antecessor do que uma sequência, uma espécie de Dragon’s Dogma 1.5 com uma história ruim, vários problemas e um combate divertido que levam a crer que a equipe de desenvolvimento ignorou a comunidade e as melhorias da versão Dark Arisen. O preço cobrado é salgado pela experiência e eu recomendo esperar por atualizações ou uma boa promoção, do contrário é possível optar por jogar Dragon’s Dogma: Dark Arisen enquanto este não fica pronto.