Dragon Quest III HD-2D Remake – O clássico revitalizado, mas não sem tropeços | Análise
O jogo preserva a essência do clássico, mantendo o combate por turnos e a progressão característica dos JRPGs.
Analisado no PlayStation 5
O lançamento de Dragon Quest III HD-2D Remake em 14 de novembro de 2024 trouxe uma versão modernizada do clássico originalmente lançado em 1989 para o Famicom. Disponível para Nintendo Switch, PlayStation 5, Xbox Series X | S e PC, o remake utiliza a consagrada HD-2D, já vista em títulos como Octopath Traveler e Triangle Strategy, para proporcionar uma experiência visual cativante e imersiva.
Sem spoilers, a história não é novidade, aqui somos colocados no papel do Herói ou Heroína em uma jornada para honrar o legado do pai desaparecido, ao completar 16 anos o Rei de Aliahan nos convoca como seu novo campeão na longa busca em deter o vilão Baramos de provocar mais males ao mundo. Dragon Quest III é o primeiro título da Trilogia de Erdrick, mas não espere que tudo esteja exatamente igual, a narrativa foi enriquecida com ajustes e adições, garantindo algumas surpresas.
A jogabilidade recebeu melhorias que tornam o título mais acessível, como opções de automação de combate, ajustes na velocidade das batalhas e ferramentas de qualidade de vida, incluindo marcação de objetivos e seleção de dificuldade. Essas adições equilibram a experiência para novos jogadores, sem comprometer o apelo nostálgico para veteranos, até mesmo porque todos esses recursos podem ser ignorados pelo jogador se assim quiser. Falando no quesito dificuldade, o game apresenta três níveis, fácil, normal e difícil, criativamente identificadas como Dracky Quest, Dragon Quest e Draconian Quest.
As mudanças entre elas são bastante perceptíveis em alguns aspectos e bem poucos em outros, por exemplo, como era de se esperar a Dragon Quest oferta um desafio padrão, onde as recompensas e ganhos de experiência são “normais”, além disso, seus personagens morrem durante as batalhas, sendo necessário uso de itens ou magias para revivê-los, além do recurso do padre em cada vilarejo. No modo fácil isso não existe, seus personagens atingem o nível mínimo de vida e magia, mas permanecem vivos e lutando com aquilo que vos resta, já no modo difícil, prepare-se para passar sufoco e raiva, porque o jogo não tem piedade alguma de penalizar o jogador.
Falando em personagens, como citei no texto de preview, começamos como uma equipe básica, sendo o Herói o mais equilibrado, um guerreiro que é forte de pode aguentar bastante pancada, um mago para recitar encantamentos majoritariamente de ataque e um sacerdote para manter o grupo vivo e sadio dentro do que for possível. Esse grupo pode e deverá ser alterado em alguns momentos da história, para isso o game oferece duas opções, contratar (digamos criar) um novo personagem ou mudar algum dos seu seus atuais para novas classes, essas que podem ser: mercador, ladrão, animador, mestre de artes marciais, sábio e domador de monstros. Preste atenção a esse detalhe, porque algumas missões no game vão precisar de profissionais de tipos variados, principalmente o caso do domador de monstros que vai facilitar nossa vida na captura de monstros pelo jogo, uma das side quests do game. O processo de mudança de classe pode ser feito no monastério, mas para tal o seu personagem precisa chegar no nível 20 e você perde alguns atributos, mas ele já é “criado” melhor que um que seja contratado do zero na cidade de Aliahan.
Cada classe vai ter seus atributos e capacidades específicas, bem como magias e habilidade que podem aprender, isso também pode ser influenciado pelo equipamento que usam, uma arma pode conceder um golpe diferenciado incluindo algo elemental, equipamentos, assim com itens, podem ser comprados nas lojas das cidades bem como coletadas em baús, potes e mobília em dungeons e casas. Um detalhe peculiar que os desenvolvedores se atentaram, você sempre vai achar itens que fazem sentido de estarem naquele objeto, por exemplo, se encontrar um item num guarda-roupas ele será uma vestimenta ou arma, se encontrar numa gaveta, é bem provável que seja um equipamento menor como capacetes e acessórios como braceletes, anéis e coisas do tipo. Em potes podem se achar itens consumíveis, dinheiro e mini medalhas, um colecionável do game que pode ser trocado por bons itens. Os baús podem conter todo tipo de coisa, inclusive monstros disfarçados de baús. Não se esqueça dos livros encontrados em prateleiras, eles são bons aliados em melhorar ou mudar a personalidade de um membro de sua equipe, afinal, ninguém vai querer um mago burro igual a uma porta.
Já em relação ao mundo do game, não estranhe se ele parecer familiar, sim, o mundo de Dragon Quest III HD-2D Remake é baseado no nosso mundo real, com os continentes parecidos e localidades que fazem referência aos locais que elas estão no mundo real, vou citar alguns exemplos, Portoga é Portugal, Romarian seria Roma ou a Itália atual, Jipang é obviamente o Japão… e assim por diante. Cada um desses locais possui estilos visuais e características próprias, como detalhes na língua dos habitantes, visuais arquitetônicos e outros mais culturais como o fato de você poder negociar o preço com um comerciante em Ibis, baseado no mundo árabe, até o Brasil está no jogo e ele é facilmente percebido, com algumas palavras em português no texto, mas isso trás a trona um problema grave do que game que vou falar mais adiante.
Eu não considero a jornada de Dragon Quest III HD-2D Remake como linear, uma vez que em vários momentos o game te dá um bom número de localidades que podem ser exploradas, mas não te diz para qual ir ou a ordem a fazer, isso fica a seu critério, porém, vez ou outra vai ser necessário viajar até uma região para adquirir algum item para daí então poder prosseguir naquela primeira que você estava, até ai é normal, um ponto bom é que depois de visitar um local, ele fica facilmente acessível através da magia Zoom, acessada pelo menu de magias do herói ou facilmente por um atalho na tela do mapa.
Entre travessias de um lugar ao outro do mapa, em cidades e dungeons, duas coisas você vai notar, primeiro, é que o game tem mudanças de horário, sim, temos quatro variações, manhã, meio-dia, tarde e noite e isso interfere no visual do game, sendo bastante notável e claro em algumas missões, comércios e personagens que podem ser encontrados. Outra coisa que é facilmente notável é o número absurdo de encontros aleatórios para batalhas, sinceramente, em alguns momentos chega a irritar, claro que isso foi mantido para representar o legado do game, mas poxa, bem que poderiam colocar o monstros pixeladinhos ali no cenário, algo parecido com o que temos no Dragon Quest XI na versão 3D ou até mesmo no remake do DQ8 no 3DS, sem exageros chega a ficar cansativo e não temos muitas opções do que fazer, o mais indicado é usar uma magia temporária de efeito sagrado que faz com que monstros de baixo nível ignorem a sua party, mas isso várias vezes é ignorado.
Já que é quase impossível evitar as batalhas, vamos a elas, aqui como citei lá no começo do texto, temos algumas melhorias de vida, como a adição de batalhas “semi” automáticas, não sendo necessário delegar ações para nenhum membro se o jogador assim preferir, apenas indicando entre as opções de luta sem misericórdia, ou seja, use tudo que tiver, lute com sabedoria, concentre-se na cura, não use MP, me dê retaguarda e siga as ordens, esse ultimo que da o opção de controlar todas as ações. Mas porque digo que é semiautomática, simples, ao final de cada turno você tem a chance de mexer nessas configurações e até mesmo dar o comando de escapar da luta, no DQ XI eu me lembro de ter uma função que entrava e saía da batalha sem eu precisar mexer em nada se não quisesse.
A tela de batalha segue a tradição de Dragon Quest, com uma visão em primeira pessoa dos monstros e uma tomada mais ampla nos momentos entre um turno e outro, é nesse momento que podemos ver com mais detalhes os nossos personagens e seus equipamentos, durante as ações é legal também ouvir os personagens recitarem os feitiços e habilidades, e é bem nítido eles falando os nomes em inglês ou japonês de cada encantamento. Em contrapartida um detalhe que me irritou bastante era o fato de alguns inimigos poderem dar mais de um golpe no mesmo turno antes da vez do meu grupo, isso era mais intenso ainda em cenários onde eu estava bem na margem do nível necessário para aquela dungeon, onde facilmente eu podia ter a morte de mais de um membro ou ainda terminar uma batalha, recuperar todos os membros da equipe, dar cinco passos para ser aniquilado logo na sequência. Sim meus caros, Dragon Quest III HD-2D Remake não é um jogo fácil e ele também não colabora muito com a opção mais fácil de gameplay, essa que pode fazer com que o excesso de encontros aleatórios se torne maçante e demorado, já as outras duas opções de dificuldade vão judiar do jogador de outras formas, mas acho que é mais instigante do que cansativo, aí fica a sua escolha.
Os gráficos são um dos grandes destaques do remake. A união de sprites em estilo retrô com cenários tridimensionais detalhados exemplifica o potencial da tecnologia HD-2D. Cada ambiente é retratado com riqueza de detalhes, criando uma atmosfera rica e vibrante. Cada localidade, cada detalhe, tudo é espetacular, não tenho outras palavras para descrever, efeito de fumaça, folhagem das plantas, os pássaros que voam quando passamos pertos, os ratinhos que fogem dos nossos personagens em uma dungeon empoeirada e o detalhe de distorção causado pelo vidro das janelas! Sim são detalhes, mas isso que faz o mundo parecer vivo e muito vibrante. No PlayStation 5, há a possibilidade de priorizar gráficos ou desempenho, acho que não necessita de muitas explicações, mais resolução ou mais quadros por segundo, por ser um RPG por turnos, eu preferi melhor qualidade gráfica.
A trilha sonora, reformulada, mantém a identidade da série enquanto utiliza arranjos modernos que intensificam a imersão, com músicas orquestradas e com alta qualidade sonora. Já o trabalho de efeitos sonoros brinca bastante com a nostalgia, aplicando sons clássicos do game, bem como outros novos. O game oferece audio em inglês e japonês e localização em alguns idiomas como alemão, chines, italiano, francês, coreano, espanhol europeu e espanhol da América Latina… notaram um detalhe, sim ficamos de fora novamente, e esse detalhe eu não vou perdoar, isso é um absurdo, nosso mercado é quase tão grande quanto o da América Latina, o Brasil sozinho representa 50% da América do Sul e mesmo assim a Square-Enix deixar nosso mercado sem localização, isso ao meu ver é um desrespeito não apenas com os falantes de português, mas sim ao Dragon Quest III HD-2D Remake que perde uma chance imensa de ganhar mais e mais fãs por aqui.
Em conclusão, Dragon Quest III HD-2D Remake é uma homenagem ao legado da série, oferecendo uma combinação equilibrada de nostalgia e modernidade. O maior destaque vai para o capricho visual e sonoro, mas sem se esquecer de todas as melhorias implementadas, de fato ele não é perfeito, carece de pontos críticos como o excesso de batalhas aleatórias, dificuldade exagerada e também a falta de localização.
Apesar de algumas limitações, o remake demonstra o compromisso da Square Enix em preservar e revitalizar clássicos de forma a manter sua relevância para novas gerações. Para fãs da franquia, o título é indispensável. Já para novos jogadores, talvez seja melhor começar pelo Dragon Quest XI antes de mergulhar na primeira parte da Trilogia de Erdrick, quem sabe quando sair o remake do I e II, esse já receba um patch com localização.